Publicado originalmente no jornal Correio Braziliense de 04/01/2010.
O cientista político Cesar Romero Jacob, do Departamento de Comunicação da PUC-Rio, é autor de algumas das contribuições mais criativas e consistentes aos estudos eleitorais brasileiros nos últimos tempos (veja-se, por exemplo, JACOB e outros, “A eleição presidencial de 2006 no Brasil: continuidade política e mudança na geografia eleitoral, revista Alceu, v. 10, nº 19, p. 232 a 261 – jul./dez. 2009)
A originalidade do seu trabalho consiste em cruzar dados de todos os pleitos presidenciais no período da Nova República (1989, 1994, 1998, 2002 e 2006) com informações provenientes das 558 microrregiões brasileiras definidas pelo IBGE.
Como o estudo do passado -- apesar de este jamais se repetir inteiramente -- é o único meio ao nosso alcance para tentar prever o futuro, vale a pena conhecer alguns dos principais resultados das pesquisas do professor Jacob de olho na sucessão do presidente Lula, em 2010.
Em primeiro lugar, a análise do perfil demográfico, social, econômico e político de todas as microrregiões aponta três grandes vetores do voto: os grotões, pequenas cidades do interior comandadas pelo coronelismo, com cerca de 46 milhões de eleitores; as periferias pobres das metrópoles, onde a política está nas mãos das máquinas partidárias de líderes populistas e dos pastores evangélicos; e as classes médias e altas urbanas, muito divididas nas suas opiniões e atentas aos programas eleitorais e às propostas de política pública. Lula só ganhou quando, a partir da eleição de 2002, ele o seu PT conquistaram a confiança de metade a quase dois terços do conjunto desses três segmentos, adotando a estratégia de moderar seu discurso para torná-lo mais palatável ao centro do espectro político-ideológico. Aliás desde Collor (1989) até Lula (2002 e 2006), passando por FHC I e II, só chega ao Palácio do Planalto quem se mostra capaz dessa performance.
Em primeiro lugar, a análise do perfil demográfico, social, econômico e político de todas as microrregiões aponta três grandes vetores do voto: os grotões, pequenas cidades do interior comandadas pelo coronelismo, com cerca de 46 milhões de eleitores; as periferias pobres das metrópoles, onde a política está nas mãos das máquinas partidárias de líderes populistas e dos pastores evangélicos; e as classes médias e altas urbanas, muito divididas nas suas opiniões e atentas aos programas eleitorais e às propostas de política pública. Lula só ganhou quando, a partir da eleição de 2002, ele o seu PT conquistaram a confiança de metade a quase dois terços do conjunto desses três segmentos, adotando a estratégia de moderar seu discurso para torná-lo mais palatável ao centro do espectro político-ideológico. Aliás desde Collor (1989) até Lula (2002 e 2006), passando por FHC I e II, só chega ao Palácio do Planalto quem se mostra capaz dessa performance.
Em segundo lugar, o eleitorado costuma votar com o bolso. No pleito de 2006, Lula se reelegeu vencendo disparado entre as classes mais pobres, graças aos programas sociais do seu governo (Bolsa-Família, Luz para Todos, aumentos do salário mínimo sempre acima da inflação).Geraldo Alckmin,seu oponente do PSDB, perdeu a eleição, mas colheu os melhores resultados de votação nas regiões onde o agronegócio exportador sofria com o real muito valorizado.
Em terceiro lugar, essas preferências socioeconômicas são georreferenciadas, isto é, Lula obteve sua votação mais maciça nos estados das Regiões Norte e Nordeste, enquanto o ex-governador Alckmin, além do seu estado de São Paulo, teve o melhor desempenho no Sul e no Centro-Oeste (redutos do moderno agronegócio).
Em terceiro lugar, essas preferências socioeconômicas são georreferenciadas, isto é, Lula obteve sua votação mais maciça nos estados das Regiões Norte e Nordeste, enquanto o ex-governador Alckmin, além do seu estado de São Paulo, teve o melhor desempenho no Sul e no Centro-Oeste (redutos do moderno agronegócio).
O que nos leva a interrogar o futuro. Os prováveis candidatos dos dois partidos que, de 95 para cá, se alternam na presidência (PSDB e PT) – o governador José Serra e a ministra Dilma Rousseff, respectivamente – participarão de uma disputa inédita na história da Nova República, no sentido de que será o primeiro pleito presidencial sem Lula. Será que a ministra logrará beneficiar-se da ‘transferência do carisma’ do seu popularíssimo chefe? (Até hoje, isso nunca aconteceu em sucessão presidencial, as únicas exceções se limitam a eleições municipais: em São Paulo, 1996, Maluf ‘fez’ Pitta; no Rio, mesmo ano, Cesar Maia ‘fez’ Conde.) Será que Serra conseguirá ‘compensar’ uma previsível derrota no Norte/Nordeste, carregando de lavada, não apenas São Paulo e o Sul, mas também os dois outros grandes colégios eleitorais de Minas Gerais e Rio de Janeiro? (Na eleição passada, seu antecessor e correligionário Alckmin levou SP, mas não arrastou MG nem RJ, que foram de Lula no segundo turno.)
Bem, senhoras e senhores, façam suas apostas – já sabendo que em qualquer campanha eleitoral a única ‘pesquisa’ que realmente vale é aquela que sai das urnas.
(*) Professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB) e analista da Ornelas & Ornelas – Consultoria.
(*) Professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol/UnB) e analista da Ornelas & Ornelas – Consultoria.
Como autêntico nordestino não votarei na Dilma, e sim no projeto político do maior presidente do país, que em 2014 estará de volta à Presidência do Brasil. O Serra foi um bom ministro da Saúde, mas não conquista a simpatia da maior parte dos nordestinos pelo seu tom elitista e ar de superioridade.Johnas Fechine
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